terça-feira, 5 de maio de 2015

Piano Bar...

Resolvi postar uma interpretação da música "Piano bar" dos Engenheiros do Hawaii, que integra o álbum "Várias Variáveis" de 1991. 
Sou fã da banda e especialmente do poeta Humberto Gessinger (Blogessinger). Decifrar e interpretar abstrações contidas em suas ricas letras para mim é um passatempo e ao meu ver muito produtivo! No entanto essa foi uma canção que custei a encontrar sentido, até que depois de muito tempo consegui encontrar uma interpretação bem coerente...
Segue aí abaixo, para todos que tiverem interesse e especialmente para todos os fãs da banda e do H.G como eu! 




Engenheiros do Hawaii - Piano Bar


O que você me pede eu não posso fazer
[Ele aborda uma estranha num bar que pede: "Cai fora!"]
Assim você me perde e eu perco você
[Drama excessivo pelo fato de não abrir brecha para se conhecerem, perder "oportunidade" de ter um ao outro]
Como um barco perde o rumo
[Desnorteado com o "fora", com a rejeição]
Como uma árvore no outono perde a cor
[Analogia a se "descabelar" ou talvez perder o "colorido" (alegria?)]

O que você não pode, eu não vou te pedir
[Aparentemente se conformando com o desinteresse dela]
O que você não quer, eu não quero insistir
[Não quer incomodar, por medo de afastar ainda mais, demonstra insegurança!]
Diga a verdade, doa a quem doer
[insistência, se vitimizando, demonstrando certo desespero já pela súbita obsessão]
Doe sangue e me dê seu telefone
[Doar sangue no sentido de caridade, "tenha dó (implícito), dê uma chance" - Já demonstrando muita carência!]

*Nessa primeira parte ele parece ilustrar um certo ar patético no apaixonado, que valoriza demais uma pessoa ainda sem muita importância (estranha?) e que por outro lado não da nem de longe a mesma importância que ele dá para a situação...

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar
[Vida rotineira? Monótona? - Talvez tendência de repetir atitudes?]
Às vezes fica longe, difícil de encontrar
[Momentos de completa desorientação na vida]
Mas quando o neon é bom
Toda noite é noite de luar
[Tendência a fantasiar demais!?]

No táxi que me trouxe até aqui
Julio Iglesias me dava razão (yo soy un hombre solo)
[Mais uma vez a tendência de fantasiar, sentido em coisas que nem sempre tem!]
No clip Paul Simon tava de preto
Mas na verdade não era não
[Aqui Humberto deixa claro que o eu-lírico distorce a realidade!]
Na verdade nada é uma palavra esperando tradução
[Tendência humama de criar respostas para o que não tem, de criar situações onde nada acontece]

Toda vez que falta luz
[Luz como analogia de clareza de idéias, RACIONALIDADE]
Toda vez que algo nos falta 
[sensação de vazio]
O invisível nos salta aos olhos
[passamos a ver coisas onde nada se vê (ou onde não existem?)]
Um salto no escuro da piscina
["Megulho" com fé cega?]

O fogo ilumina muito, por muito pouco tempo
[Fogo aqui em analogia a paixão, que rapidamente se esvai!]
E em muito pouco tempo
O fogo apaga tudo, tudo um dia vira luz
[O poder altamente destrutivo das paixões, de modo que quando vemos com clareza (racionalidade) novamente, o estrago já pode ter sido grande!]
Toda vez que falta luz, o invisível nos salta aos olhos

Ontem à noite, eu conheci uma guria
Já era tarde, era quase dia
[Fim de noite, costuma ser o momento onde se "apela" se tolera o outrora intolerável]
Era o princípio num precipício
Era o meu corpo que caía
[Parte mais complexa de toda a música e complexamente resumida a uma frase (genial?), para mim uma clara e sutil referêcia ao filme "Um corpo que cai" (Vertigo - Título original) de Alfred Hitchcock! Um clássico do cinema que aborda a questão da obsessão humana, a referida tendência a elaborar externamente fantasias internas e a insaciabilidade e incompletude das paixões, ou seja, com uma citação ele puxa o fio para toda a interpretação feita na música! Para mim, genial!]

Ontem à noite, a noite tava fria
[Momento de carência e desamparo]
Tudo queimava, nada aquecia
[A paixão causa uma necessidade insaciável, que não completa nunca]
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão
[E na verdade era! Pois ele idealizou nela, a carência que existia nele!]

Ontem à noite eu conheci uma guria
Que eu já conhecia de outros carnavais
Com outras fantasias
[Reforça a idéia de que as paixões dizem mais a respeito de si mesmo do que pela pessoa pela qual se apaixona, quer dizer, troca-se apenas o objeto, que tem a mesma simbologia, representação! Por isso ele têm a impressão de já conhecê-la, pois ele veste sua idealização em uma nova pessoa, fantasiando ser ela aquilo que ele espera]
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão

No início era um precipício, um corpo que caía
Depois virou um vício (foi tão difícil)
Acordar no outro dia
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha
[Por fim a sensação de posse! Apaixonados tomamos posse do que nunca foi nosso. Por outro lado cai a ficha de que as coisas realmente não eram o que pareciam!]

10 comentários:

  1. Uma ótima interpretação. Um pouco diferente da minha admito, principalmente no trecho “Era o princípio num precipício/Era o meu corpo que caía". Provavelmente por conta do meu desconhecimento a respeito do filme "Um corpo que cai". É realmente uma boa análise. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. INTERESSANTE a tua interpretação. Eu jamais havia pensado essa letra dessa forma. Eu, particularmente, a entendo de outra maneira: não se trata de um flerte num bar, e sim de uma amante!

    A amante quer que ele conte a verdade à namorada/esposa, algo do tipo "ou ela ou eu", mas o cara não pode fazer, talvez por que ame a namorada/esposa e não seja capaz de abandoná-la, daí: "O que você me pede eu não posso fazer / Assim você me perde e eu perco você [...]".

    Numa tentativa de dissuadir a amante, ele diz que nunca lhe pediria algo que ela não possa fazer - "O que você não pode, eu não vou te pedir [...]". Todavia, como ele tem carinho/respeito pela amante, não vai insistir em manter o caso "extraconjugal", caso ela não queira mais que seja assim - "O que você não quer, eu não quero insistir [...]".

    Talvez nisso tudo ele reflita um pouco sobre ambos os relacionamentos em que está. Todos os dias ele encontra com a amante, mas às vezes sente-se incomodado, quiçá por que se lembre da namorada/esposa - "Todos os dias eu venho ao mesmo lugar / Às vezes fica longe, difícil de encontrar [...]". Assim, ele tenta se convencer de que é apenas um homem e, como é comum entre os homens a traição, está tudo bem: "No táxi que me trouxe até aqui Júlio Iglesias me dava razão (yo soy un hombre solo) [...]" ("yo soy un hombre solo" = "eu sou apenas um homem").

    Essa música do Júlio fala de um homem sozinho, boêmio. É provável que Engenheiros queiram aludir ao distanciamento do cara no seu relacionamento principal, o sentimento de solidão que leva à busca de um aconchego em outros braços.

    "Toda vez que falta luz / Toda vez que algo nos falta (alguém que parte e não volta) / O invisível nos salta aos olhos [...]". Com a possibilidade de perder a amante, caso não termine com a namorada/esposa - e vice-versa -, os sentimentos que ele tem por cada uma delas vem à tona, e ele acaba refletindo sobre o que realmente sente por cada uma e o quanto sente. Só que essa distinção, essa ponderação é sempre muito difícil, afinal, os sentimentos costumam ser algo abstratos. Paixão e amor são fáceis de confundir e são intensos - "Um salto no escuro da piscina".

    [CONTINUA ABAIXO]

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. [CONTINUAÇÃO...]

      "O fogo ilumina muito, por muito pouco tempo / E muito pouco tempo / O fogo apaga tudo, tudo um dia vira luz". Já dizia o poeta que a paixão é fogo que arde sem se ver. A paixão, em geral, é um sentimento muito forte que faz com que deixemos a razão de lado. A paixão é intensa, mais forte que o amor, em geral, suave. Mas ela se extingue rápido. E, conforme se apaga, voltamos a enxergar as coisas melhor, com mais "razão". Daí que "O fogo apaga tudo, tudo um dia vira luz".

      "Ontem à noite, eu conheci uma guria / Já era tarde, era quase dia / Era o princípio num precipício / Era o meu corpo que caía". Aqui ele, talvez, explique o começo do caso. Quando ele a conheceu. Era o começo da aventura e, com ela, todos os problemas que viriam, afinal, é comum que todo homem que tem amante mude um pouco o comportamento com a namorada/esposa, e com isso podem surgir alguns conflitos.

      "Ontem à noite eu conheci uma guria / Que eu já conhecia de outros carnavais / Com outras fantasias / Ela apareceu, parecia tão sozinha / Parecia que era minha aquela solidão". A guria não era qualquer guria. Talvez fosse uma amiga, uma colega, enfim, alguém que ele já conhecia, uma pessoa do passado, pela qual ele tivesse algum sentimento, mas que, por alguma razão, nunca permitiu mostrar a ela. Talvez a moça fosse comprometida ou coisa assim, e ele espeitasse isso, mantendo distância.

      Só que agora, eles se encontraram num momento em que ela estava "sozinha", provavelmente triste por recém ter terminado um relacionamento, ou seja, precisando de carinho. Ele talvez tivesse brigado com a namorada/esposa. Os dois se encontram nesse momento de "vulnerabilidade" emocional e acabam tendo um caso.

      "No início era um precipício, um corpo que caía / Depois virou um vício (foi tão difícil) / Acordar no outro dia [...]". Ele "se atirou de cabeça" nesse relacionamento paralelo, ficou cada vez mais difícil manter o outro relacionamento, mas ele não quer ou não poder terminar. Agora que a amante o colocou nessa sinuca de bico, ele se vê obrigado a encerrar o caso e ficar só com a namorada/esposa, mas ele ainda sente paixão pela amante - o vício. Ele sentia que ela era "compatível" com ele: "Parecia que era minha". Mas agora vai ter de aceitar o fim para não ter de deixar da namorada/esposa.

      Pode parecer confuso, mas é essa a leitura que eu faço da música por que vivi uma situação parecida. E eu tive de renunciar da "outra" para ficar com a namorada. No começo doeu muito perder aquela paixão intensa. Mas com o tempo passou. Reconstruí meu namoro. Por maior e mais gostosa que fosse a paixão com a "outra", não valia a pena jogar fora um relacionamento de tanto tempo por causa de um caso de futuro incerto.

      Excluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Muito boa a sua interpretação, nada a ver com a minha rsrs
    Pois eu já acho que ele fala sobre drogas, ou como se o amor fosse uma droga, algumas partes que me fazem a achar isso:

    "Todos os dias eu venho ao mesmo lugar"
    [Todos os dias ele vai no mesmo lugar para comprar]

    "Às vezes fica longe, difícil de encontrar"
    [Como toda droga, é difícil de se achar]

    "Mas quando o neon é bom
    Toda noite é noite de luar"
    [Mas quando o "bagulho" é bom, tudo fica brilhando]

    "O fogo ilumina muito, por muito pouco tempo"
    [A droga tem seu efeito rápido]

    "E muito pouco tempo o fogo apaga tudo, tudo um dia vira luz"
    [O efeito passa e ele vê tudo com clareza]

    "Toda vez que falta luz, o invisível nos salta aos olhos"
    [Toda vez que ele fica "alto", ele começa a imaginar coisas]

    "Era o princípio num precipício
    Era o meu corpo que caía"
    [Ele tava desesperado e se deixou levar]

    "Ontem à noite, a noite tava fria
    Tudo queimava, nada aquecia"
    [A droga da sensação euforia, mas qualquer coisa que ele fazia, nada o satisfazia]

    "Ontem à noite eu conheci uma guria que eu já conhecia de outros carnavais
    Com outras fantasias"
    [Ele conheceu a droga que na verdade ele já tinha conhecido mas de outra forma (cigarro, pó, bala...)]

    "No início era um precipício, um corpo que caía
    Depois virou um vício"
    [Não preciso falar mais né rsrs]

    Enfim, essa é minha interpretação. Mas Humberto é um gênio, só ele mesmo sabe o que ele quis dizer rs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Kkkkk tive que logar. Sua interpretação foi cômica. Parabéns

      Excluir
    2. Não é cômica! A música tem um leve duplo sentido, um de uma paixão a uma garota e a outra, mais subliminar q é justamente essa. Guria,garota, significa cocaína. "Tudo queimava, nada aquecia..." é sobre maconha. "Toda vez que falta luz, o invisível nos salta aos olhos!" é quando vc tá chapado, se fechar os olhos vc começa a penar e as coisas fazem mais sentido do que nunca... E por ai vai. Cada frase tem uma mensagem, um contexto!

      Excluir
  6. Amei sua interpretação! Mas realmente é bastante subjetiva, como pode-se notar pelo comentário anterior, que também faz sentido.

    ResponderExcluir